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04/07/2020 as 17:38 | Por EDMILSON DA COSTA PEREIRA |
Entre erros e acertos
Se a evolução científica ainda é exígua, o mais grave é que as relações sociais estão muito aquém do padrão necessário para, pelo menos, minimizar os graves efeitos da moléstia
Fotografo: Arquivo/assessoria
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Estamos há meses convivendo com as limitações e o medo gerado pela PANDEMIA do Coronavírus. A história irá mencionar que a humanidade, no primeiro quinto do século XXI foi desafiada a empregar os conhecimentos adquiridos ao longo de várias décadas em especializações, mestrados, doutorados, pós-doutorados, cursos e ensaios de inteligência artificial e todos os equipamentos e instrumentos resultantes da propalada “evolução humana”, para tentar conter um vírus que se alastrou por todos os recantos onde o ser humano habita.

Nesse cenário, muitos que ostentam algum conhecimento sobre o tema não se assumem preparados para a batalha e incautos que deveriam invocar Sócrates para externar que “a única certeza que sabem é que nada sabem”, por isso, não podem ensinar nada, promovem verdadeiros despautérios nas indicações de saídas e soluções para a crise sanitária em evidência.

Enquanto isso, perdemos vidas e esperanças na possibilidade de transformar a sociedade para que nossa gente alcance o ideal da felicidade humana, no curto espaço de permanência na terra.

As ações desencadeadas para conter a doença que se espalha, revelam que a evolução científica tem sido insuficiente para enfrentar os desafios da natureza que, diante da insensatez humana, responde, em regra, com doses homeopáticas de manifestações naturais mas, não raro, dispara a sua fúria para que os insanos despertem e lhe respeitem.

Agora temos a PANDEMIA, mas já estamos nos acostumando a conviver com inundações, furacões, terremotos, quedas de barreiras, etc.

Se a evolução científica ainda é exígua, o mais grave é que as relações sociais estão muito aquém do padrão necessário para, pelo menos, minimizar os graves efeitos da moléstia.

Vivemos, como diz o filósofo polonês Zygmunt Bauman, uma sociedade líquida, marcada pelo individualismo. Somos inscientes nas regras de convívio e acreditamos que relacionar-se socialmente é alimentar a mídia sedenta para a disseminação de eventos pessoais, projetados no coletivo, e participar ativamente das redes existentes na internet onde achismos e inverdades são propagados em um ritmo alucinante.

Além disso, nota-se agora que o antônimo de “isolamento social” é, para muitos, o funcionamento de ambientes de lazer, restaurantes, das festas comunitárias e familiares, espetáculos esportivos, etc.

Creio que essa visão é muito simplista. De fato, não é só isso… gestores, técnicos e a sociedade deveriam invocar os poetas, para quem é tão comum sentir-se só em meio à multidão.

Para Bauman, na sociedade atual “tudo é temporário, a modernidade (…) – tal como os líquidos – caracteriza-se pela incapacidade de manter a forma”.

Os intérpretes de Baumam ressaltam que segundo ele “duas das características da modernidade líquida são a substituição da ideia de coletividade e de solidariedade pelo individualismo; e a transformação do cidadão em consumidor.

Nesse contexto, as relações afetivas se dão por meio de laços momentâneos e volúveis e se tornam superficiais e pouco seguras (amor líquido).

No lugar da vida em comunidade e do contato próximo e pessoal privilegiam-se as chamadas conexões, relações interpessoais que podem ser desfeitas com a mesma facilidade com que são estabelecidas, assim como mercadorias que podem ser adquiridas e descartadas.”

Quando a PANDEMIA atinge em igualdade de condições, porém, com resultados absolutamente diferentes, pobres e ricos, é possível constatar na realidade que somos, efetivamente, uma sociedade individualista. E para enfrentá-la, só com o fortalecimento dos laços sociais.

Nesses dias temos visto muitos líderes que não lideram e outros que lideram sem rumos. Também tem sido comum a disseminação de conclusões antecipadas relacionadas às saídas para tratamento da doença e intervenções de órgãos diversos para adoção dessa ou daquela medida.

Todos se acham certos e até carregam boas intenções, porém, estão alicerçados em nosso “mal de origem”, porquanto se amparam em conhecimento consolidado com a chancela do individualismo.

E por isso, erros e acertos se sucedem. Em um dia um decreto ou decisão judicial impõe uma restrição, uma condição, etc.

Em outro, a medida anterior é substituída, por vezes, sem sequer ter sido implementada. É a temporalidade constatada pelo filósofo polonês.

Paralelamente às pesquisas científicas buscando caminhos para destruir o vírus que nos ataca, é preciso que os ocupantes de todas as parcelas de poder se esforcem para que além dos discursos e estudos, produzidos em gabinetes e laboratórios, construam ou contribuam para construir caminhos sólidos em uma sociedade líquida. Para isso é preciso entender que as saídas estão na causa e não no efeito.

Lembrando o gaúcho de Cruz Alta Érico Verissimo, que há muito cunhou a frase “para que serve construir arranha-céus se não há mais almas humanas para morar neles”, não adianta proibir o tráfego de veículos ou reduzir a frequência a supermercados pois, nem os carros, nem os mercados, são problemas e muito menos a solução para derrotar a PANDEMIA.

O problema é o homem e a sua incansável sede de consumir. Destarte, reduzir o consumo, pela conscientização da necessidade de adoção de medidas voltadas para a sustentabilidade humana é, quem sabe, a única solução.

Precisamos, nesses dias difíceis, voltar-nos para as comunidades, para o compartilhamento das pequenas soluções e para a valorização dos canais que viabilizam o tráfego das ações positivas, legando ao futuro o fortalecimento comunitário para combater os desafios como esse que estamos enfrentando.

*Edmilson da Costa Pereira é Procurador de Justiça em Mato Grosso

Colaboração Astrogildo Nunes – astrogildonunes56@gmail.com
Cuiabá e Municípios da Grande Baixada Cuiabana.
E.mail . Jornal.int@gmail.com.br
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